Pra quem acredita que vivemos num País democrático eis um texto interessante que pode servi de base para rever os conceitos.
ByPri
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A CANAILLE toma as ruas, faz terrorismo guarani-kaiowá
e pede que o estado seja democrático e conceda passe-livre.
O estado democrático, por sua vez, eleito pelos mesmos sacripantas que hoje
tomam as ruas, faz valer o poder coercitivo supostamente assinado por vocês e
por nós outros naquele suspeitíssimo negócio que chamam de ‘contrato social’
(nunca vi) e solta os cavalos e desce os porretes. A imprensa mainstream – uns poucos contra, outros
muitos a favor da balbúrdia – denuncia que o estado democrático não foi
democrático de verdade quando soltou os cavalos e desceu os porretes. E cobra
democracia. E nós outros sabemos, ou deveríamos saber, que pedir democracia é
pedir para apanhar.
Você divide seu voto por, quantos?, cento e não sei
quantos milhões. Seu voto vale zerozerozerozerozero-etc-um. Não vale nada,
enfim. Daí você pede, chora, sapateia: passe livre, direito de ser vadia e não
ser tratada como puta, direito de ser puta e não ser tratada como vadia, divórcio,
casamento gay, divórcio gay, aborto, adoção gay, meia entrada pros, aspas,
estudantes, lei não sei das quantas que garanta que a meia entrada dos, aspas,
estudantes não atrapalhe o orçamento dos artistas (com ou sem aspas), e bolsa
isso e bolsa aquilo, que o estado permita, que o estado proíba, que o estado ao
menos prometa que vai pensar, que o estado discuta relação e tudo o mais que
lhe der na veneta. Democracia é realismo fantástico.
O estado democrático faz o que? Atende seus pedidos. Daquele jeito dele, sabe-se bem, mas de algum
modo ele atende. E seus representantes dizem na tv que você é um cidadão e tem
de votar. O cidadão acredita piamente nos milagres do sufrágio universal e
digita os números do celerado da vez e da camarilha correspondente. O celerado
da vez, para ser eleito, promete aquelas coisas todas que já se sabe quais são,
mais algumas outras que nem sequer foram cogitadas, e diz que pretende
‘aprofundar a democracia’. E você fica feliz.
Mas aqui começam os problemas. O estado, para atender às
demandas, meu caro eleitor, manda mais e mais em você e se mete mais e mais na
sua vida. E não porque ele seja necessariamente mau. Mas é sua natureza, seu modus operandi: para cumprir o que se
espera o estado tem de crescer, tem de ampliar seu campo de atuação e dilatar e
estender o alcance de suas competências.
Ele passa a ter mais poder – que lhe foi outorgado –
justamente porque você, que o sustenta, quer ter mais poder. O estado tira mais
do seu dinheiro, diz o que é moral você fazer ou deixar de fazer, regulamenta
cada ato, cada falta de ato. Se a bancada evangélica ou cristã é maior, durante
quatro, oito, doze anos veremos uma atuação política toda cheia de preocupações
com a moral e os bons costumes (farisaica). Mas os cristãos, ficamos felizes. O
problema é que quatro, oito, doze anos mais tarde tipinhos inacreditáveis como
Jean Wyllys chegam ao poder – legitimamente, considerado o sistema
representativo – e temos então a bancada gay, o discurso gay, as preocupações
gays.
Se o estado serve para alguma coisa (e não estou certo
sobre), serve precisamente para equalizar as relações entre os cidadãos – à
parte todo o peso de suas diferenças – perante a lei e o direito. Se o estado
serve para alguma coisa, serve como arcabouço jurídico que garanta a isonomia,
a equanimidade nos julgamentos.
Esperar do estado muito mais do que isso – salvo em
questões emergenciais – é esperar que os pretendidos direitos e mimos que você
exige compensem as restrições progressivas à sua liberdade. Nunca compensam. E
a quem você vai reclamar quando o estado suprimir suas liberdades (voltar ao
início do texto: ‘faz valer o poder coercitivo etc’)? Ao estado novamente, para
que seja mais democrático e mais isso e mais aquilo. Samsara.
Precisamos de menos estado. Precisamos de menos
democracia – muito menos democracia – e mais civilização. Democracia é só um
arranjo muito vagabundo que de uns tempos pra cá nós enfiamos na cabeça que é a
única coisa que funciona. E não é. Mas dá preguiça pensar, não é mesmo?
Democracia é passe-livre. Mas também
é gás-pimenta.
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