A
despeito do fingimento da mídia brasileira, os órgãos de segurança dos
EUA estão perfeitamente a par de tudo. Sabem que o partido que nos
governa integra o Foro de São Paulo.
Não ouvi a fala da presidente Dilma na ONU. Espero que não tenha iniciado o discurso com aquele seu horroroso refrão: "Eu queria dizer para vocês...". Aliás, é inacreditável que nenhum assessor ainda lhe tenha dito que se ela está de pé, se tem a intenção de falar, se está com o microfone na mão... basta falar. Não precisa dizer que quer dizer. Isso a gente já sabe.
Pois
bem, não ouvi o discurso, mas li a respeito. Pelo resumo do que li, a
presidente puxou as orelhas de Obama em virtude da espionagem que a ANS
vem fazendo na nossa privacidade. E soube, também, que Obama, no seu
turno de falar, puxou as dela com seu silêncio sobre o assunto. Por
outro lado, assisti o inteiro relato que o ministro José Eduardo Cardozo
fez durante a audiência pública a que foi convidado pela Câmara dos
Deputados na última terça-feira.
Segundo
contou, já ocorreram as duas reuniões que haviam sido acertadas entre
Brasil e EUA. A primeira delas, de natureza técnica, foi inteiramente
inútil porque quando os técnicos brasileiros perguntavam sobre o que foi
feito e como foi feito, os norte-americanos afirmavam que eram questões
de segurança interna que não podiam ser reveladas. A reunião política,
posterior, à qual o próprio ministro compareceu, começou e terminou com
evasivas e lero-lero tipo "vamos tomar providências" e "voltaremos a
conversar sobre esse assunto", etc. e tal. Para usar com propriedade uma
palavra da moda - "enrolation".
Ficou
evidente que o governo norte-americano não têm a menor intenção de
conversar sobre sua bisbilhotice e que Dona Dilma, com o alvoroço que
causou, acabou se enfiando numa saia justa. Descobriu, talvez, que os
EUA não são como o Brasil. Ela falou para surdos, engrossou o tom contra
quem não lhe deu atenção. O silêncio de Obama e a falta de repercussão
de suas palavras no plenário foram uma lição para a vida. Agora, só lhe
resta queixar-se a Bento XVI que no papa Francisco ela já deu uma
canseira.
Essa
espionagem, vista na perspectiva dos interesses brasileiros, é uma
violência e um profundo desrespeito à nossa soberania e aos bons
costumes nas relações entre os Estados nacionais. No entanto, a
espionagem é um mau costume que integra de modo permanente a história
dos povos. Tolo é quem se deixa surpreender e não se prepara para
evitá-la. A contra-espionagem está para espionagem assim como a polícia
está para o bandido.
Na
perspectiva norte-americana, a situação se apresenta de modo diferente.
O partido que hegemoniza o poder no Brasil integra o Foro de São Paulo
(FSP), organismo político que articula a esquerda continental, embora a
imprensa brasileira teime em fazer de conta que não existe. Nossa
imprensa sabe, perfeitamente, que esse poderoso órgão, "criado para
restabelecer na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu", se
reúne uma vez por ano para definir objetivos e estratégias. Sabe que os
membros do FSP, partindo do zero em 1991, já governam 16 países do
continente. Mas o nosso jornalismo não se interessa pela organização nem
quando seus membros se reúnem em São Paulo. A imprensa sabe, mas faz
questão de que você, leitor, não saiba.
A
despeito do fingimento da mídia brasileira, os órgãos de segurança dos
EUA estão perfeitamente a par de tudo. Sabem que o partido que nos
governa integra o FSP. Sabe que Lula foi seu fundador, junto com Fidel
Castro. Sabe que entre partidos organizados, socialistas e comunistas,
também participam do Foro grupos guerrilheiros como o MIR chileno e as
FARC colombianas. Sabe o quanto as convicções políticas de todo o grupo
são anti-americanas. Reconhecem o peso do Brasil no contexto regional e
sabem que o governo brasileiro não consegue esconder sua simpatia e
afeição a quem quer que, na cena política mundial, se revele adversário
dos EUA, em especial os atuais governos de Cuba, Venezuela, Bolívia,
Equador, Peru, Nicarágua, Argentina, Uruguai, Irã e Palestina. Será
preciso mais para motivar os ianques, especialmente em tempos nos quais o
país se percebe vulnerável dentro do próprio território? Se o governo
brasileiro não quiser ser espionado, que se acautele. Afinal, até eu
gostaria de saber o que eles andam tramando.
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