quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Ensinar os filhos em casa ganha força no Brasil e gera polêmica

Estimados leitores,o assunto em questão já passou por aqui e certamente sou franca em dizer que concordo plenamente com a ideia dos pais em questão.
Por outro lado reafirmo que respeito a opinião de todos, este blog de forma alguma tem o interesse em ditar o que é certo ou errado, cada pai e mãe é responsável pelo seu filho e sendo assim decide o que melhor lhe convém. Ok
Vamos ao artigo e sintam-se a vontade para expor seu ponto vista.
Pri :-)
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Uma nova batalha vem sendo travada dentro e especialmente fora das salas de aula do Brasil. A polêmica gira em torno da chamada educação domiciliar, em que famílias optam por ensinar seus filhos na própria casa e não na escola.

De um lado da trincheira estão pais que defendem o direito de eles próprios - e não o Estado - decidirem como e onde os filhos serão educados. Ao se dizerem insatisfeitos com o sistema educacional do país, eles mostram aprovações dos filhos em exames como o Enem para corroborar a eficácia da educação domiciliar.
No outro lado da disputa estão o governo e alguns juristas alegando que tirar uma criança da escola é ilegal, além de alguns educadores, que criticam a proposta, especialmente com argumento de que essa prática colocaria as crianças em uma bolha.

Mais sedimentado em países como os Estados Unidos, o homeschooling (como também é conhecido pela expressão em inglês) vem ganhando fôlego no Brasil. Segundo a Aned (Associação Nacional de Educação Domiciliar), há mil famílias associadas no grupo. Mas Ricardo Iene, cofundador do órgão, calcula que, pela quantidade de e-mails que recebe, sejam mais de 2 mil famílias educando seus filhos em casa no Brasil.

Clique Leia mais: Educação domiciliar cresce nos EUA

O movimento também está conquistando espaço na esfera política. No próximo dia 12, haverá uma audiência pública em Brasília para discutir o tema, na Comissão de Educação e Cultura da Câmara. Na pauta, estará também o Projeto de Lei (PL) do deputado Lincoln Portela (PR-MG), que autoriza o ensino domiciliar.

Advogados da Aned veem na própria Constituição brechas que defendem o direito da família de educar seus filhos (veja box), mas a associação acredita que uma lei específica daria mais segurança aos pais que optam por esta modalidade de ensino.

Por que em casa?

"Quando meu filho tinha 7 anos, um garoto da escola, que tinha 10 anos, batia nele e o perseguia por causa do nosso sotaque baiano", conta Ricardo Iene, cofundador da Aned (Associação Nacional de Educação Domiciliar), que é natural da Bahia, mas mora em Belo Horizonte (MG) há cinco anos. "Também havia um garoto que ficava assediando milha filha."

Ricardo tirou os filhos Guilherme e Lorena da escola por estarem sofrendo bullying
"Fui várias vezes na escola, reclamar, conversar, tentar resolver esses problemas. Mas nunca adiantou."
O bullying foi um dos motivos que, há três anos, influenciou Ricardo a tirar da escola, Guilherme, de 13 anos, e Lorena, de 15 anos. Mas certamente não foi a única motivação. Tanto para o publicitário que vive em BH como para outros pais ouvidos pela BBC, é sempre um conjunto de fatores que o impulsionam a tomar essa decisão.
Mas um deles parece estar sempre presente: o desejo de estar mais envolvidos e presentes na criação dos filhos.
Clique Leia mais: Mães relatam rotina de ensino domiciliar em apartamento de SP
"Vemos crianças hoje em dia que entram na escola às 7 da manhã e ficam até bem depois das 17h ou 18h, porque elas ficam fazem balé, natação e várias outras atividades. Além da agenda cheia como a de um adulto dessas crianças, mal sobra tempo para o convívio familiar", diz M.L.C, mãe de 4 filhos, todos em homeschool, que não quis se identificar por temor de ser denunciada.

Limbo jurídico

Se, no campo da educação, há uma disputa de argumentos pró e contra o homeschool, na campo jurídico ela é ainda mais acirrada.
O governo afirma que a prática é ilegal. Consultado pela BBC, o Ministério da Educação respondeu: "O MEC entende que a proposta de ensino domiciliar não apresenta amparo legal, ferindo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), a LBD (Lei de Diretrizes Básicas) e a própria Constituição Federal."
De acordo com a LDB, "é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4 anos." O ECA afirma que "pais e responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino". E o artigo 246 do Código Penal traz detalhes do que chama de abandono e intelectual, para os casos de quem deixa de prover instrução.
No entanto, advogados de famílias que praticam educação domiciliar citam interpretações na lei e lacunas jurídicas que, segundo eles, tiram a prática da ilegalidade.
"Segundo a Constituição, a educação é direito de todos e dever do Estado e da família", diz Alexandre Magno, diretor jurídico da Aned. "Então, o que está na Constituição se sobrepõe sobre o ECA e a LDB. Portanto, se os pais têm o dever de prover educação, têm soberania e liberdade para poderem escolher entre delegar a instrução para uma escola ou eles próprios se incumbirem disso."
Esse limbo jurídico também é reforçado por exames como o Encceja (Ensino Fundamental) e o Enem (Ensino Médio), que certifica alunos que completarem um determinada pontuação mesmo se não apresentarem diplomas das escolas. Algo que, para Alexandre, seria um aval para a educação domiciliar.
Ricardo também sentia falta do envolvimento de outros pais quando frequentava as reuniões na escola dos filhos, tanto das instituições públicas como das particulares. "Muitos pais nem participavam. E aí, ficava ainda mais difícil melhorar a situação da escola."
Outro ponto que impulsionou o publicitário e outras famílias a optarem pelo homeschool é o fato de não concordarem com alguns valores morais passados na escola. Ricardo diz que ele e outros associados da Aned costumam se incomodar especialmente com a abordagem de temas como sexo e homossexualidade.

Vivendo em uma bolha?

Mas se do lado dos pais praticantes da educação domiciliar só se ouve elogios do tipo "agora meu filho aprende e não apenas decora", do lado dos educadores, o que se vem são dúvidas e críticas. Muitas críticas.
"Se os pais estão insatisfeitos com a escola, há muitas outras alternativas antes de se colocar o filho em uma bolha", afirma a educadora Silvia Colello, professora de Psicologia da Educação e outras disciplinas da Faculdade de Educação da USP.
"Além do mais, qual a lição subliminar que se está passando ao filho ao tirá-lo da escola? Certamente algo como, diante de um problema, basta resolver apenas a minha parte, salvar a própria pele, e o resto que se dane."
Para a educadora, os pais também erram ao acreditarem que com educação domiciliar estão protegendo seus filhos, por estarem em um ambiente amigável, sem bullying, sem competição. "Infelizmente, a vida não é assim. Mais cedo ou mais tarde, essa criança vai se deparar com a realidade. Vai começar em um emprego, por exemplo, onde há competição, bullying, tudo isso."
Silvia também cita a importância da escola não apenas pelo conteúdo, mas também pela convivência que se tem com outras pessoas e o aprendizado que se tem com isso, seja na hora de se aprender a lidar com o outro, de aprender com os colegas, comparar seus trabalhos e até mesmo de lidar com brigas e desentendimentos. "Toda essa vivência é tão importante quanto português, matemática ou história", diz a educadora.
Os homeschoolers, no entanto, dizem que as crianças não vivem em uma bolha e têm essa convivência ao encontrarem amigos no clube, na praça, na igreja ou na casa deles e ao frequentarem atividades, como natação, fotografia e judô.
"Acho contraditório", afirma a educadora. "Se o problema é a perseguição na escola, não tem bullying na aula de natação?"

'Luta de todos'

A educadora Maria Celi Chaves Vasconcelos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) aponta um outro problema na prática da educação domiciliar no Brasil de hoje: a falta de fiscalização do Estado. Algo que foi reforçado durante a pesquisa para seu pós-doutorado, sobre o homeschooling e suas implicações hoje tanto no Brasil como em Portugal.
"Diferentemente dos portugueses, que já conseguiram colocar todas as suas crianças na escola, nós ainda estamos caminhando para isso. Então, no momento, seria difícil conciliar sistemas diferentes de educação", diz.
"Como o governo conseguiria fiscalizar as crianças em educação domiciliar se ainda não faz isso de maneira satisfatória nem com as próprias escolas públicas?" Segundo ela, em Portugal, as crianças em homeschools são registradas nós órgãos regionais e as autoridades fazem um acompanhamento da educação delas.
Ela vê aspectos positivos no método, como ensinamentos passados não apenas em salas de aula, mas também em locais como museus e planetários. E acredita que escolha dos pais em relação à educação dos filhos seja algo inevitável no futuro, quando o Brasil atingir suas metas educacionais.
Enquanto isso, Silvia, a educadora da USP, também defende que essa opção é prejudicial ao projeto de educação do país como um todo.
"É claro que a ensino no Brasil ainda está bem aquém do esperado, mas é preciso se ter uma frente de luta e não de alienação. E essa luta não é só do Estado, mas também das escolas, dos pais, dos professores e de toda a sociedade."


Fonte: bbcbrasil

domingo, 3 de novembro de 2013

Unicamp cria método que analisa danos dos xampus aos cabelos


 Metodologia para medir os danos causados aos cabelos por substâncias presentes em produtos é criada na Unicamp e pode ajudar a indústria a melhorar processo de fabricação


Vaidade em excesso também pode danificar os cabelos

Metodologia consiste em expor mechas de cabelo em frascos contendo cada tensoativo por 96 horas



A maioria das mulheres e, no contexto atual da sociedade, homens também, preocupam-se consideravelmente com os cabelos. Para manter o visual aprumado, as madeixas são tratadas à base de diversos produtos químicos que, se não usados com parcimônia, podem prejudicar em demasia os fios no futuro. Pensando numa cabeleira saudável, o químico Rafael Pires de Oliveira desenvolveu uma metodologia que calcula os danos causados por substâncias tensoativas presentes em fórmulas de variados cosméticos, especialmente xampus, dos mais baratos aos de marcas luxuosas.

A dissertação de mestrado do pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob o título "Degradação de cabelo causada por tensoativos: quantificação por meio da análise das soluções de lavagem por espectrofotometria UV-VIS", avalia os surfactantes, moléculas que têm atividade detergente, responsáveis pela limpeza dos cabelos, e o seu poder em provocar perda de proteínas e de melanina, substâncias de grande importância para a manutenção dos fios, que são fibra natural composta de quatro principais camadas diretamente atingidas por substâncias danosas. Cutícula e córtex são as áreas mais afetadas. A primeira é a parte mais externa do fio, enquanto a segunda reúne macrofibrilas de queratina – proteína fibrosa composta por aminoácidos.
Rafael Oliveira pegou mechas de cabelos embebeu-as em soluções de tensoativos e usou sistema de lavagem por espectrofotometria

A principal motivação para o estudo foi um pedido de uma indústria específica da área. "Uma empresa do setor de cuidados pessoais nos procurou para saber se era possível desenvolver uma metodologia mais prática para quantificar e comparar os danos aos cabelos gerados em longo prazo pelo uso de xampus com diferentes tensoativos", comenta Rafael Oliveira. Ele já havia realizado trabalhos de pesquisa com os fios, e aceitou o desafio de se aprofundar no tema. "Meu estudo visou analisar e quantificar os danos gerados por diferentes substâncias tensoativas usadas em xampus", diz.

O químico analisou 16 surfactantes. Sua metodologia consistiu em expor mechas de cabelo em frascos contendo cada um dos tensoativos por 96 horas. Ao final desse período, o cientista observou o líquido de cada um dos frascos utilizando um espectrofotômetro – aparelho que é capaz de quantificar substâncias de acordo com a absorção de luz característica das mesmas. A partir de tal leitura foi possível ter noção da extensão dos danos aos cabelos provocados pelos tensoativos.

"Para quantificar o grau de degradação de um tensoativo, uma amostra de cabelo castanho escuro foi colocada em contato com uma solução do tensoativo e deixada por um longo tempo a 38°C, que é a temperatura média da água do banho", diz o pesquisador. Contudo, Oliveira ressalta que o tempo prolongado de contato dos cabelos com os surfactantes procurou igualar-se a um resultado cumulativo, que extrapolasse os efeitos dos tensoativos na fibra capilar. Para detectar o quão degradante era a ação de cada substância, partiu-se da medida quantitativa de cor na solução do tensoativo no qual o cabelo estava em contato.

Nos resultados, Rafael observou que "os tensoativos que mais agridem os cabelos são os aniônicos, entre eles o lauril éter sulfato de sódio, que está presente na maioria das formulações de xampu do mercado, independentemente do valor do produto". A pesquisa concluiu que todos os surfactantes causam danos aos cabelos (uns mais e outros menos), provocando ressecamento dos fios e tornando-os mais quebradiços, principalmente nas pontas. "Como esperado, tanto os tensoativos quanto a água causam degradação da fibra capilar, desde a remoção de fragmentos de cutícula até a extração de melanina do córtex e de material proteico", explica.

Em suas observações, o pesquisador notou um grau de degradação da fibra capilar que varia de acordo com o índice HLB dos tensoativos. "Esse índice, chamado balança hidrófilo-lipófilo (HLB), está presente em tensoativos aniônicos, que extraem em maior quantidade ou mais rapidamente as substâncias do cabelo (sujidades, gordura, poeira etc.). Já os tensoativos anfotéricos, que têm menor força detergente, degradam menos os fios", acrescenta.

Os tensoativos não iônicos, segundo Rafael Oliveira, podem atingir o cabelo na mesma intensidade, ou ainda menor, que a água. Mas são usados, geralmente, como agentes de consistência, normalmente usado em condicionadores capilares e cremes diversos.
Os tensoativos que mais agridem os cabelos são os aniônicos, entre eles o lauril éter sulfato de sódio, que está presente na maioria das formulações de xampu do mercado, independentemente do valor do produto

Tensoativos
Sendo assim, segundo Oliveira, a indústria poderá escolher os tensoativos menos danosos. "O método que desenvolvi pode ser incorporado às práticas de pesquisa dentro das empresas, possibilitando a avaliação e quantificação de danos que as substâncias tensoativos causam nos cabelos", frisa. Ademais, surfactantes menos nocivos podem ser incluídos na formulação dos xampus, que não necessitarão de tamanha quantidade de componentes condicionadores, "que conferem o aspecto dito saudável do cabelo".

Oliveira comenta que a indústria faz constantes estudos sobre a utilização de várias fórmulas em seus produtos. No entanto, como não há a publicação em periódicos científicos, na maioria das vezes não ocorre a validação das pesquisas por outros cientistas. "Em geral, as indústrias do setor cosmético requerem patentes das formulações para proteger as suas pesquisas em vez de publicá-las. Além disso, poucas empresas desse setor têm laboratórios de pesquisa científica alocados no Brasil", afirma. Segundo o pesquisador, o desenvolvimento científico advém de laboratórios localizados nos Estados Unidos e na Europa, onde se encontram as matrizes das multinacionais.

Quanto à segurança, Rafael Oliveira garante que as indústrias não usam quaisquer componentes que sejam prejudiciais à saúde dos usuários e seguem as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Apesar de causarem danos aos cabelos, os tensoativos utilizados são seguros à saúde, conforme as orientações da Anvisa. "Um bom xampu é aquele que melhora o aspecto dos cabelos do consumidor", exalta o pesquisador da Unicamp.